Na visão da psicanálise, a infidelidade com várias pessoas — especialmente quando há um envolvimento afetivo com cada uma delas — pode ser compreendida a partir de diferentes estruturas e dinâmicas inconscientes. Vamos analisar essa questão com profundidade:
🔍 1. Desejo e Repetição (Inconsciente)
A psicanálise entende o sujeito como movido por desejos inconscientes, que muitas vezes escapam à lógica racional. Quando alguém se envolve com várias pessoas e se apega emocionalmente a todas elas, pode estar preso a um circuito de repetição de uma falta que tenta compensar com múltiplos vínculos amorosos.
"O sujeito busca, em cada nova pessoa, algo que jamais encontrou na anterior — um objeto de desejo impossível de ser plenamente satisfeito."
🔄 2. Compulsão à Repetição (Freud)
Segundo Freud, o sujeito pode se ver aprisionado em uma compulsão à repetição, ou seja, repetir padrões afetivos ou relacionais, mesmo que estes levem ao sofrimento.
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A multiplicidade de relações pode indicar tentativas de preencher uma lacuna interna, como carência, abandono na infância, ou um trauma psíquico não elaborado.
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Cada novo apego seria uma reedição inconsciente de uma cena anterior, não resolvida.
👥 3. Relação com o Objeto (Teoria das Relações Objetais)
De acordo com autores como Melanie Klein e Winnicott, a forma como nos relacionamos com os outros na vida adulta reflete como internalizamos nossas figuras parentais na infância.
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Se houve insegurança, ausência ou instabilidade no cuidado primário, o sujeito pode desenvolver a necessidade de manter várias pessoas próximas ao mesmo tempo, como forma de garantir que alguma estará disponível.
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Isso também pode ser um mecanismo defensivo contra o abandono: se perder uma, há outras.
🛡 4. Mecanismos de Defesa (Ego)
É comum que, nesse tipo de comportamento, estejam atuando mecanismos como:
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Racionalização: justificar para si mesmo o envolvimento com várias pessoas.
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Negação: evitar entrar em contato com a dor ou o vazio interno.
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Idealização: cada nova pessoa é vista como “aquela que vai preencher o que falta”.
❤️🩹 5. Narcisismo e Autoimagem (Freud / Lacan)
Em algumas estruturas, esse padrão pode se associar a questões narcisistas:
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A pessoa busca ser amada por todos, pois seu "Eu" depende do olhar do outro (Lacan).
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O apego por vários pode funcionar como uma forma de autoafirmação, reforçando o valor próprio por meio do desejo alheio.
🧠 6. Possível Diagnóstico Estrutural
Do ponto de vista clínico psicanalítico, esse comportamento pode aparecer em diversas estruturas, como:
Estrutura Psíquica | Características relacionadas |
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Neurótica (histeria ou obsessão) | Dificuldade de lidar com a falta; procura constante de amor idealizado. |
Borderline | Instabilidade nos vínculos afetivos, medo intenso de abandono, idealização/desvalorização. |
Narcísica | Busca constante de validação e admiração, uso do outro como espelho. |
⚠️ Importante: Não se trata de julgar moralmente, mas de compreender por que o sujeito precisa desses vínculos múltiplos e apegados. O objetivo da psicanálise é ajudar o sujeito a se escutar e elaborar esse desejo inconsciente.
🗨️ Em resumo:
A infidelidade com múltiplos apegos pode ser uma tentativa inconsciente de lidar com a falta, com o medo do abandono, ou com a necessidade de confirmação de valor pessoal. É um fenômeno complexo, que exige escuta clínica cuidadosa, sem reduções simplistas.
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